domingo, 15 de junho de 2014

Futebol e cooperativismo: o que tem em comum!?, por Ênio Meinen.

O futebol, que por si só já exerce uma grande atração, assume especial protagonismo nesses dias, sendo tema de candentes e apaixonados debates ao redor do Planeta. Tanto aqui como na Inglaterra, versado em um só “idioma”, será esse o assunto principal das conversas de rua, ônibus, botecos e até mesmo de reuniões de executivos não convocadas para esse fim!
E por falar em Inglaterra, é precisamente lá que começam as coincidências entre o esporte das multidões e o cooperativismo. Foram os ingleses, com efeito, que, em 1844, deram origem ao movimento cooperativo tal como o conhecemos hoje, e também é deles o pioneirismo do futebol moderno, porquanto, em 1863, lá fundaram a primeira associação de clubes (Football Association – FA, atual versão da Federação Inglesa), sob a qual criaram as primeiras regras do futebol atual.
Cooperativas e clubes de futebol são espécies do mesmo gênero societário, organizando-se sob a égide de entidades associativas, de 1º, 2º e 3º níveis (cooperativas singulares, centrais e confederações x associações, federações e confederações de futebol).  Há, até, situações em que o futebol se estrutura sob o modelo jurídico-cooperativo propriamente dito. É o caso, por exemplo, do FC Barcelona, time mais conhecido, vitorioso e admirado do mundo – com 150 milhões de torcedores -, congregando cerca de 175.000 sócios/cooperados. Ao seu lado, outro clube espanhol opera sob bases genuinamente cooperativistas. Trata-se do Real Madrid, atual campeão da “UEFA Champions League”, principal competição interclubles depois do mundial da categoria (vide “The Success of the cooperative model in football”http://www.sommetinter.coop/cms/success-cooperative-model-football)
O futebol tomou o Globo, assim como o movimento cooperativo. Hoje, aquele é o maior fenômeno social da humanidade (capaz de reunir 3,2 bilhões de pessoas para acompanhar a final da Copa de 2010, sendo praticado por 265 milhões de atletas, segundo dados da Fifa), ao passo que o cooperativismo, como expressão socioeconômica, forma a maior organização não governamental do mundo, com mais de 1 bilhão de membros (considerando o conjunto familiar dos sócios, estima-me pelo menos 3 bilhões de envolvidos com a causa). Como já dizia Vinícius de Moraes, o futebol é uma “paixão mundial”, um “ideal de vida”, simpatia e objetivo que o cooperativismo, em idêntica abrangência e extensão, também representa para os seus simpatizantes.
Por aqui, embora a sua relevância e apelo socioeconômico, o cooperativismo financeiro, para falar de uma das vertentes cooperativistas, detém parcela correspondente a apenas 2% da indústria financeira (posição dos ativos, conforme dados do Banco Central do Brasil), enquanto o nosso futebol, adorado entre os brasileiros e cultuado além de nossas fronteiras, também não representa mais que 2% do PIB doméstico (segundo a empresa Pluri Consultoria, de Curitiba – PR) e tem semelhante fatia do mercado global da bola, que movimenta em torno de US$ 1 trilhão por ano (de acordo com informações do Ministério do Esporte). Nos dois casos, tomando por referência as melhores experiências internacionais em empreendedorismo futebolístico e cooperativista, o potencial de expansão é equivalentemente considerável.
A propósito, pensando em estratégias que possam mudar o quadro, a aglutinação entre cooperativas(através de incorporações e fusões) e o aprimoramento de sua governança têm-se mostrado medidas exitosas para fortalecer e acelerar o seu crescimento lá fora e aqui, soluções essas que também mereceriam ser testadas como movimentos a, no futuro, tornarem os nossos clubes mais sólidos e virtuosos (intra e extra campo).
O sucesso do futebol tem tudo a ver com a soma de esforços entre os atletas(cooperação/espírito de equipe). Nas cooperativas, a união representa o seu próprio DNA. Em matéria de futebol e cooperativismo, definitivamente, não se vence sozinho. A vaidade e o egoísmo (“eu tudo”), nos dois casos, são nocivos e costumam ser fatais! (na lição de Bernardinho, vitorioso e expoente do coletivismo esportivo, “a vaidade é inimiga do espírito de equipe“).

Em ambas as iniciativas, o investimento em “pratas da casa” costuma dar os melhores resultados, pois quem surge e cresce dentro da cooperativa e do clube assimila a sua “cultura”, desenvolve o espírito de pertencimento e verdadeiramente “veste a camisa”.
Assim como a ocupação de espaço no campo de jogo é um movimento tático fundamental no futebol, a presença em localidades pouco povoadas revela uma das grandes virtudes do cooperativismo financeiro.
Tanto no ambiente cooperativo quanto no futebol, o protagonismo dos seus públicos é essencial para o alcance dos resultados. No futebol, a torcida presente aos estádios representa incentivo fundamental para as vitórias de seu clube, enquanto no cooperativismo a participação dos associados motiva a direção para o cumprimento de suas metas e assegura a sustentabilidade do movimento.
O futebol é um esporte inclusivo e igualitário, em torno do qual todos os estamentos sociais, cores e credos se encontram e confraternizam, enquanto o cooperativismo, por princípio, também não escolhe ou discrimina os seus membros, sendo frequentado por ricos e pobres, religiosos e não-religiosos, homens e mulheres, velhos e jovens, partidários e apartidários, enfim, por todos que queiram usufruir de seus benefícios. Aliás, tanto um quanto o outro, desde a sua origem, reúnem entre seus fins mais nobres o combate a toda e qualquer espécie de preconceito e exclusão sociais, incluindo o elitismo e o racismo.
Tal qual o cooperativismo, que tem entre os seus objetivos melhorar a qualidade de vida nas comunidades em que atua, o futebol carrega um apelo muito forte no campo da solidariedade, mobilizando cada vez mais pessoas em torno de projetos voltados para crianças e jovens carentes (vide, entre nós, as iniciativas do Cafu e do Raí, ex-craques da Seleção).
Enfim, futebol e cooperativismo, “identidade” de muitos e mais que presentes na cultura universal, são, por definição, “patrimônio” de multidões, simbolizando uma verdadeira copropriedade multicoletiva.
Não é sem motivo, portanto, que as duas inciativas constituam forte apelo popular, e por isso são destaque nos meios de comunicação. Como tema socialmente apreciado, a exemplo do futebol, o cooperativismo, notadamente o financeiro, há algum tempo vem merecendo generoso espaço na mídia, tendo caído no gosto do povo e, no seu âmbito, também caminha para uma espécie de “preferência nacional”.
Agora, os cooperativistas temos de reconhecer que o futebol leva a melhor em um importante quesito: a fidelização! Enquanto no movimento cooperativo muitos associados militam (operam) também na concorrência, no futebol isso é impensável. Imaginemos alguém ser torcedor do Bahia e do Vitória ao mesmo tempo; do Flamengo e do Vasco; do Atlético e do Cruzeiro; do Palmeiras e do Corinthians; do Atlético e do Coritiba; do Figueirense e do Avaí;… do Colorado e do Grêmio…!? Sem chance! Que sirva de exemplo…
Bem, a Copa está aí (e aqui!), e, quem sabe, voltemos a formar a “corrente pra frente”, dando impulso ao 6º princípio universal do movimento cooperativo, unindo-nos, em intercooperação, com o futebol brasileiro, do qual somos todos sociossimpatizantes!
Rumo ao HEXA dentro das “quatro linhas”, e à conquista do troféu da igualdade, da inclusão, da dignidade e da prosperidade sociais!
“La fórmula del hombre que quiere triunfar: no luchar en solitario”!(homenagem à Espanha, atual campeã mundial de futebol., terra do Padre Arrizmendiarreta, fundador do grupo cooperativo Mondragón e autor dessa máxima).
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Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários artigos e livros sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 30 anos -, entre eles “O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã“. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).
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