segunda-feira, 3 de março de 2014

Cooperativas de crédito de livre admissão tem rentabilidade maior do que os bancos.


As cooperativas de crédito de livre admissão de associados possuem rentabilidade quase duas vezes maior que a do sistema financeiro como um todo, mostra levantamento feito pelo Banco Central (BC). Enquanto a rentabilidade desse tipo de cooperativa, que não faz restrição ao perfil dos cooperados, fechou o ano passado em 1,28% ao mês, a do sistema financeiro foi de 0,44% ao mês. As cooperativas chamadas de livre admissão também detêm rentabilidade maior que a do conjunto do segmento cooperativista, que foi de 0,94% ao mês.
Esses dados fazem parte de um diagnóstico das 274 cooperativas de livre admissão feito pelo BC. O panorama, segundo o BC, mostra que foi acertada a decisão, tomada há dez anos, de quebrar a exigência de um mesmo perfil de associados, como categoria profissional, para constituir uma cooperativa.
Atualmente, as cooperativas de livre admissão representam pouco menos de um quarto do universo das cooperativas singulares, mas respondem por 56% das operações de crédito e metade dos depósitos do sistema cooperativista. Os financiamentos e empréstimos originados nessas cooperativas representam 1,02% do crédito total do sistema financeiro. Dos cooperados brasileiros, 54% estão associados às cooperativas de livre admissão, que juntas detêm 55% dos ativos totais do segmento (cerca de 1% dos ativos totais do sistema).
O BC ainda analisa com mais cuidado os motivos que fazem com que a rentabilidade das cooperativas de livre admissão seja maior. No entanto, o chefe-adjunto do departamento de monitoramento do sistema financeiro, Ailton Santos, ressalta que, diferentemente dos bancos, que dividem os lucros só entre os acionistas, o retorno nas cooperativas é distribuído entre todos os associados ao fim de cada ano.
Mesmo assim, segundo ele, as cooperativas de livre admissão poderiam conciliar uma rentabilidade mais próxima à do sistema cooperativista, compensando a queda das sobras no fim do ano com a oferta de produtos e serviços mais baratos.
Por outro lado, do ponto de vista da supervisão, a rentabilidade alta dessas instituições é positiva porque uma parte não é dividida entre os cooperados e sim retida no capital delas, um dos fatores que contribuem para tornar o sistema cooperativista mais capitalizado que os bancos.
Índice de Basileia – medida de quanto de capital próprio as instituições têm para absorver possíveis perdas com seus ativos expostos a riscos – das cooperativas de livre admissão fechou 2012 em 22,79%, inferior ao do sistema cooperativista como um todo (26,66%). O resultado é consequência natural do maior nível de alavancagem operacional e do ganho de escala dessas instituições. Em comparação ao índice do sistema financeiro (16,51%), porém, o indicador desse tipo de cooperativa é significativamente superior. Também está bem acima do mínimo exigido pelas normas prudenciais brasileiras (11%) e internacionais (8%).
Outro ponto que chama a atenção no estudo é a CAPILARIDADE dessas instituições. De 2003 para 2012, onúmero de postos de atendimentos (PAs) de cooperativas de livre admissão aumentou de 2.104 para 2.226, representando quase 60% do total do segmento de cooperativas. Em média, são praticamente oito postos de atendimento para cada cooperativa de livre admissão de associados ante três no segmento cooperativista como um todo.
O BC conta com essas instituições para que o sistema financeiro seja mais inclusivo. “As cooperativas conseguem chegar a locais no interior do país onde não existe nenhuma agência bancária“, diz o chefe-adjunto do departamento de organização do sistema financeiro, João Luiz Marques.
Outra aposta do BC é que as cooperativas de livre admissão consigam forçar uma maior CONCORRÊNCIA BANCÁRIA, já que oferecem praticamente os mesmos produtos e serviços financeiros do que os bancos a um custo efetivo total (que inclui não só as taxas de juros mas também tarifas administrativas)menor.
Contribui para esse objetivo a chegada dessas instituições, nos últimos dois anos, a grandes centros urbanos. Nove capitais brasileiras – Goiânia, Belo Horizonte, Porto Alegre, Palmas, Vitória, Campo Grande, João Pessoa, Porto Velho e Brasília – já contam com cooperativas desse tipo e há ainda um processo em análise para que seja instalada uma em Florianópolis. A norma foi gradativamente elevando o limite da população das cidades que poderiam receber cooperativas de livre admissão. No início, só eram permitidos municípios com menos de 300 mil habitantes.
O processo para abertura de uma cooperativa de livre admissão em uma capital é tratado pelo BC com o mesmo rigor que envolve a autorização para funcionamento de um banco, segundo os dirigentes da autoridade. As exigências no plano de negócios, na formação de administradores e na quantidade de capital mínimo, por exemplo, são bem parecidas. Além disso, o BC conta com uma unidade específica para supervisionar as cooperativas, separada da estrutura responsável por fiscalizar os bancos.
Autor: Por Murilo Rodrigues Alves | De Brasília – Valor Econômico – 

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