As cooperativas de crédito se preparam para expandir sua participação no sistema financeiro brasileiro e até mesmo começar a incomodar os grandes bancos privados nas maiores cidades do país. Até o início do mês passado, elas não tinham essa possibilidade. Mas uma resolução do Banco Central (BC) permitiu que possam ser constituídas cooperativas de crédito de livre admissão, ou seja, que podem admitir não cooperados. A norma vale também para as que estão nos municípios com mais de dois milhões de habitantes.
Agora, o pensamento de algumas dessas instituições é se fortalecer – aumentando o volume de clientes ou por meio de fusões e aquisições – para tentar abocanhar uma fatia desse mercado. Com isso, a meta do setor de ampliar sua representatividade dos atuais 2% para 10% do mercado, em dez anos, pode ser atingida em um prazo menor.
Os principais diferenciais das cooperativas em relação a bancos de varejo são o atendimento mais personalizado e as taxas de juros na concessão de crédito, em geral bem mais baixas. Enquanto o segmento cobra, em média, 3% de juros mensais no cheque especial, por exemplo, instituições como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Itaú e outras praticam entre 6% e 9,5%. Apesar de vantagens como essa, a representatividade do cooperativismo ainda é pequena para forçar as demais instituições financeiras a reverem suas taxas e tarifas em favor dos clientes.
A publicação da Resolução 3.859/10, nos últimos dias de maio, permite mudar esse cenário e garantir uma concorrência efetiva no médio prazo. Até agora, as cooperativas de crédito tinham sua atuação limitada a localidades com população de até dois milhões de habitantes. Com as novas regras, essa restrição acaba. Elas, portanto, já podem atuar na modalidade de livre admissão - aquela em que os associados não estão vinculados a um grupo específico, como médicos ou servidores públicos - também nos grandes centros urbanos. Possibilidade que amplia em muito o potencial de crescimento das instituições.
Maior cooperativa de crédito de Minas Gerais e 12ª no país, a Credicom, que congrega apenas profissionais da saúde, está pronta para fazer a abertura. A diretoria da entidade está elaborando o projeto exigido pelo BC para que a mudança que lhe permitirá atender a qualquer pessoa, independentemente de vínculo profissional, seja autorizada. O plano de negócios deve provar a coesão interna da instituição, viabilidade da mudança para livre admissão, capacidade de atendimento dos novos cooperados, perspectivas de crescimento, entre outras obrigações.
O diretor comercial da Credicom, José Augusto Ferreira, acredita que seja possível ingressar no novo mercado já em 2011. “Vai depender do tempo gasto pelo Banco Central para conceder a autorização. Porque o patrimônio líquido exigido na Resolução para deixar de ser cooperativa de crédito segmentada, nós já temos. Mais que o dobro”, garante. Atualmente, o patrimônio da instituição supera os R$ 50 milhões. O capital inicial previsto pela nova legislação é de R$ 25 milhões.
O assessor do Departamento de Normas do BC, Sergio Consolmagno, afirmou, à época da publicação da Resolução, que diversos segmentos da sociedade manifestaram interesse em se associar às cooperativas de crédito. Por isso houve a criação da nova norma, que tem a intenção de aumentar a inclusão bancária e fomentar a concorrência no setor.
Wilson Ribeiro de Moraes Filho
Diretor-Presidente da Unicred Central Norte/Nordeste
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